Escrevi este texto como comentário a um post dum blog. Acabou por ser mais do que um comentário. Como pode ser lido mesmo tirado do contexto onde foi colocado, aqui o deixo também.
Para Portugal, nos últimos anos, a referência para tudo é a Europa. Em matéria de avaliação dos professores parece que não pode ser assim. Porquê?
Já não sei o que é mais absurdo, se a criação deste modelo pelo Ministério se as alternativas que tenho visto, propostas por professores, em que o esquema de pensamento é rigorosamente o mesmo.
Eu entendo que haja pessoas que não percebam que ensinar visa antes de mais criar seres humanos, coisa que não é mensurável de maneira nenhuma. Não entendo que haja gente que deveria saber pensar, como os jornalistas, e que não entendem isso.
Falei com uma amiga, jornalista, que me disse que os sindicatos é que estão irredutíveis, pois as cedências da ministra satisfizeram os professores.
Quando lhe disse que não é bem assim, que de facto as coisas têm sido exactamente ao contrário, quando lhe disse que os professores não estão propriamente contra uma avaliação mas contra esta enormidade que não existe em mais lado nenhum, pareceu não entender do que eu estava a falar.
Quando lhe pedi para me referir um país onde exista uma coisa deste género, não o soube fazer, tal como não soube indicar as razões porque acha que este modelo deve ir para a frente. Não ser capaz de indicar razões não a impede, no entanto, de continuar a achar o que acha.
Vivemos num mundo onde os argumentos deixaram de ter valor e as convicções, vindas não se sabe de onde, parecem falar nas pessoas como se estas fossem meros veículos para a sua propaganda, em vez de autores dessas ideias.
Os «argumentos» mais utilizados para defender este modelo têm sido:
1. Antes não havia;
2. Nas outras profissões há avaliação;
3. É necessário para o sucesso dos alunos.
Então o facto de antes não haver (o que nem corresponde à verdade) constitui prova de que este é bom? Que lógica é esta?
Depois a ideia de que os professores não querem ser avaliados... Os professores não têm de querer nem deixar de querer ser avaliados. Os professores têm de ensinar! Os professores querem tanto ser avaliados como o querem os não-professores. É exactamente igual.
Quem tem de decidir se os professores são avaliados é o ME, se o ministério decidir «sim» são, queiram eles ou não. «Ser ou não ser», não lhes diz respeito. Mas, se é decidido que vão ser avaliados, eles têm o direito de se manifestar sobre aquilo a que vão estar sujeitos. Não só têm esse direito, como têm esse dever, enquanto seres humanos e enquanto professores, se a sua dignidade e a qualidade da sua actividade estiver em causa.
É no mínimo de má fé pensar-se que os professores, quando se manifestam, no fundo o que querem dizer é que não querem ser avaliados. Os professores estão bem conscientes que com qualquer modelo de avaliação, a esmagadora maioria teria BOM. A grande maioria dos professores não tem qualquer medo da avaliação.
E os milhares de professores que foram embora? Foram embora porque temem a avaliação? Porque não querem ser penalizados por ela? E então vão embora, fogem da penalização da avaliação para serem penalizados no ordenado? No pior dos casos o que vai acontecer a um mau professor será não progredir, mas muitos dos que se vão embora já estão no topo. Por que razão se manifestam uns, por que preferem perder dinheiro outros?
A questão é que este modelo exige um desgaste imenso, um descentrar da actividade do professor do que é essencial, ensinar, para se centrar na sua avaliação.
(Manuel Galrinho)
1 comentário:
Para quê a avaliação?
Será esta importante e essencial?
Todos dizem que sim, com vista à criação de condições para premiar os melhores professores e, assim, motiva-los a eles (os melhores) e aos outros objectivando um melhor trabalho com efeitos no sistema e na sua produtividade (mais e melhor educação).
É preciso clarificar que não ser premiado (promovido) não é ser castigado (despromovido). Apesar de essa ideia ser um dado adquirido e transversal na corporação docente.
Sem dúvida que é necessário separar o trigo do joio e, se possível, a prazo, transformar (algum) joio em trigo. Claro que os sindicatos não gostam disto. Porque ao fazer a separação, para além de se distinguir os bons, se vão revelar os medíocres…
A verdade é que vão todos dizendo que querem ser avaliados. Mas, simultaneamente, vão recusando todos os modelos. E não apontam para nenhum que seja aceitável. E dizem aquilo com a maior das convicções, tal como afirmam que, antes, já eram avaliados. Mesmo quando todos eram (muito bem) avaliados sendo a promoção generalizada.
Sem dizer, mas a dar a entender, o Governo tem também em consideração as questões economicistas. Progressões a todos sem distinção (como antes) obrigavam a remunerações de docentes absolutamente inauditas (em função do PIB nacional) no conjunto dos países desenvolvidos.
Assim, precisamos de algo (um instrumento) que ordene os professores a fim de poder premiar (com progressão na carreira) os melhores professores. Nesse processo, os piores não são castigados (não regredirão) mas não serão premiados.
Assim o prémio dos (melhores) docentes será a progressão na carreira.
Com os melhores premiados e os docentes razoáveis a trabalhar para lá chegar, teremos, nas Escolas um ambiente propício para a melhoria.
Será que, para isto, é necessária uma AVALIAÇÃO? Saber se os professores são BONS, EXCELENTES ou MUITO BONS?
A minha resposta é : NÂO.
A avaliação docente é difícil, complicada e, verifica-se, extremamente penalizadora para os avaliados e para os alunos (os professores estão distraídos com outras coisas que não e ensino). São papeis, reuniões, fiscalizações, aulas assistidas, mapas, orientações, relatórios, quadros, listas, reclamações, afixações, publicações, etc.
A avaliação é difícil, também, pelos factores próprios da actividade. A parte quantificável é curta. E grande parte do trabalho é feito muito “isoladamente” (em sala de aula). Não há um “superior” com quem se trabalha directamente.
Não haverá outra forma para valorizar os melhores e só a estes atribuir o prémio de progressão?
Sim. Há. E não é outro modelo de avaliação.
É a seriação.
PROPOSTA
Considerando uma carreira de 36 anos (mantendo-se ao longo dos anos a “transformação” de parte do tempo de trabalho (horário) de actividade lectiva noutro tipo de actividade e um objectivo de chegarem ao topo da carreira 1/3 dos docentes, seria fácil de montar o seguinte sistema (de 8 escalões):
(1)Todos os docentes, na entrada da carreira, estão no escalão 1.
(2)Todos os docentes promovidos num ano estarão 2 anos sem poderem repetir a progressão (mínimo 3 anos em cada escalão). Um professor que progrida de 3 em 3 anos chegará ao 8º escalão em 22 anos.
(3)Sobre-formações não aceleram progressões, os docentes mais formados terão que traduzir essa vantagem em qualidade de trabalho.
(4)Haverá progressão anual (de escalão) garantida para 10% dos professores de cada agrupamento/escola.
(5)Na mudança de agrupamento/escola, cada docente apenas poderá progredir depois de 2 anos de trabalho no novo estabelecimento.
(6)Aquela taxa (10%) é mínima e cada agrupamento/escola poderá ser bonificada em alguns pontos percentuais (até 20%, no máximo) por conta de subidas nas listas de escolas anuais referentes às provas aferidas e exames nacionais dos seus alunos. As descidas nesses rankings provocarão descidas da taxa anual anterior até ao mínimo de 10%. A manutenção mantém a taxa no valor do ano anterior.
(Poderá ou não haver listas separadas por níveis de ensino)
(O número de progressões será o resultado arredondado para o inteiro superior, havendo acertos de 3 em três anos em que o resultado – de um acerto - poderá ser o inteiro inferior)
(7)Caberá aos agrupamentos/escolas concretizar e chegar à lista anual ordenada dos seus docentes (em condições de progressão).
(8)Para além daquele prémio directo, serão promovidos todos os docentes que, em condições de promoção, que somem 6 anos alternados ou consecutivos em posições na primeira metade da lista anual ordenada naquele agrupamento/escola.
Lista de docentes ordenada. Como lá chegar?
Cada Escola determinará as suas formas. O ME apenas indicará alguns items, dos quais, um ou dois obrigatórios e com um número mínimo a considerar. As escolas poderão, assim, escolher aqueles que mais se adaptem à sua escola e, até, propor outros que o ME poderá validar e juntar à lista de opções.
Aquela lista deverá ser interna. E dela ser retirada a lista de docentes a promover. E anotados os que se situam na sua primeira metade. Sem qualquer necessidade de classificar ninguém.
ITEMs DE AVALIAÇÂO
Podem ser muitos. Uns melhores que outros. Todos com contras, mas também com prós. Os aqui indicados ou outros quaisquer.
1)Escolha por votação secreta por parte dos elementos do conselho pedagógico. Cada elemento do conselho escolheria os 3 docentes que considere mais merecedores da progressão. Os X docentes mais nomeados teriam 1 ponto.
2)Escolha por votação dentro do grupo pedagógico do docente. Idem.
3)Escolha por parte dos funcionários da escola. Idem.
4)Pelos pais, pelos alunos. Idem.
5)Os X professores com menor número de faltas (justificadas ou não) teriam 1 ponto. Nesta matéria há considerar o ponto de vista da produtividade (quantitativa).
Aqui não há que avaliar pela qualidade (resultados). Esse item liga-se à Escola e reflecte-se no aumento das vagas de promoção. Aqui há que escolher os melhores, do ponto de vista da comunidade educativa onde estão inseridos.
No início poderá se dar o caso de haver grupos onde uns votam nos outros distorcendo os objectivos de escolher os melhores. Mas gradualmente se aperceberão que a Escola (e eles) no seu todo, perderão com isso. Pois menores resultados por parte da Escola origina a redução das quotas de progressão. E o sistema se ajustará por si só. Afinal, se a Escola não subir no ranking anual, as vagas de promoção serão mínimas.
Assim, pode mesmo não ser necessária a avaliação. Nem este nem outro modelo. Os seus objectivos atingem-se de uma forma muito mais simplificada.
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